Mães Narcisistas

A ideia cultural que se tem é de que toda mãe é capaz de ser amorosa, de amar incondicionalmente seus filhos, de protegê-los, de ser acolhedora, dentre tantas outras crenças. Certamente, mesmo para uma mãe que tem condições emocionais de ser suficientemente boa, há momentos em que se sente muito cansada, desanimada, em que precisa restabelecer sua energia. A maternidade, de certa forma, é bastante desafiadora e por diversas razões, 

As mães narcisistas são aquelas que estabelecem com os filhos uma relação psiquicamente adoecedora, pelo fato de terem significativa dificuldade para se conectar emocionalmente e de oferecer e receber amor. Essas mães, geralmente, desenvolvem uma relação abusiva física e/ou psicológica com seus filhos. 

De acordo com o “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a principal característica do transtorno da personalidade narcisista é um padrão difuso de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos. Isto significa que essas características abrangem diversas áreas da vida do indivíduo fazendo com que se sinta superior. Geralmente o sujeito é arrogante e deseja ser reconhecido como uma pessoa especial. É comum exigir ser tratado de forma privilegiada por se considerar acima de outras pessoas. O narcisista superestima suas conquistas, costuma exigir atenção e admiração excessiva, insiste em ser atendido por profissionais mais qualificados de cada área e as melhores instituições. Está sempre buscando elogios, geralmente, de forma sedutora. 

Apesar de se perceber com direitos especiais, intimamente, possui baixa autoestima. Para o narcisista é terrível ter contato com o sentimento de inferioridade, pois, se sentir vulnerável, inferior, triste, não-amado, não-admirado e frágil, lhe causa aversão. Nesses momentos, a saída que encontra é agir de forma agressiva, abusiva, grandiosa e arrogante. É como se estivesse constantemente entre dois polos, ou se destaca ou se sente sem valor. O mais insuportável é se sentir mediano.

A Terapia do Esquema, abordagem psicológica integrativa, que engloba diversas teorias psicológicas e que foi criada por Jeffrey Young, tem alcançado excelentes resultados no tratamento de pacientes com transtornos de personalidade. Essa abordagem propõe que todo ser humano tem necessidades emocionais fundamentais que precisam ser atendidas desde a tenra infância. As necessidades emocionais fundamentais pontuadas pela Terapia do Esquema são: 

  • Vínculo seguro: a criança precisa se sentir segura, ter um ambiente familiar estável, receber cuidados, ser aceita e amada incondicionalmente; 
  • Autonomia: para que possa construir sua própria identidade, sendo orientada a fazer o que lhe é possível em cada fase de seu desenvolvimento. Assim a criança desenvolverá competências que farão toda diferença em sua vida;
  • Limites realistas e autocontrole: não basta dizer não para criança, é preciso ajudá-la a desenvolver limites internos para que consiga ter sentimentos de empatia, ter compaixão, respeitar as regras sociais, lidar de forma saudável com as frustrações, conseguir adiar gratificações, manter objetivos de longo prazo e para que não seja autocentrada;
  • Direcionamento para o outro: é o oposto da necessidade anterior. A criança que não pode se expressar, não tem suas emoções validadas, acreditará com o tempo que não pode ser quem ela é, precisa se conter, porque passa a acreditar que não será amada se não fizer o que os pais ou cuidadores esperam. Na fase adulta, terá dificuldade de dar limites ao outro e, portanto, terá o desenvolvimento da sua identidade prejudicado. 
  • Espontaneidade e lazer: a criança tem direito a ser espontânea, à diversão, poder se expressar, a ser ensinada a ter equilíbrio entre o dever e o prazer. Pais rígidos, cumpridores do dever a todo custo, reprimem e desvalorizam a espontaneidade. 

Quando essas necessidades não são supridas suficientemente, a criança tende a desenvolver esquemas mentais que “são padrões emocionais e cognitivos autoderrotistas iniciados em nosso desenvolvimento desde cedo e repetidos ao longo da vida” para se adaptar ao ambiente em que vive. Inicialmente, esses esquemas mentais são adaptativos, mas ao longo do desenvolvimento vão se tornando significativamente disfuncionais causando sofrimento em diversas áreas da vida. 

A mãe narcisista pode ter tido pais extremamente permissivos, não ter recebido limites suficientemente, ter sido “mimada”, não ter recebido orientação sobre a importância de respeitar direitos e sentimentos alheios. A consequência é se tornar arrogante, autocentrada, impulsiva e sem autocontrole. Uma outra possibilidade que pode ter ocorrido é ter sido privada emocionalmente, tendo a construção do vínculo seguro muito frágil. Ao contrário dos indivíduos “mimados”, estes se sentem frágeis, desvalorizados. O comportamento é semelhante ao primeiro caso, porém, a diferença ocorreu no desenvolvimento. Neste caso durante a infância, provavelmente, recebeu investimento emocional insuficiente por parte dos pais ou cuidadores, tendo sofrido negligência, sofrido abusos de diversas ordens. Podem se sentir solitários, imperfeitas, mas para se proteger, sentem constante necessidade de esconder a fragilidade. 

Referências Bibliográficas

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

NÔLETO, Patrícia. Filhos em construção: as necessidades da criança pela teoria do esquema. São Paulo, SP: Literare Books INternational, Efeditores, 2021.

YOUNG, Jeffrey E. Terapia do Esquema: guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed, 2008.

Cláudia Maria Cavalheiro Fontes

CRP: 05/59517

Sou psicóloga clínica, graduada pela Universidade Celso Lisboa/RJ. Atendo adolescentes e adultos. 

Sou apaixonada pela Terapia do Esquema, abordagem em que atuo na clínica. Procuro estar em formação contínua. 

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