Desde os primeiros momentos de nossa existência somos influenciados por uma interconexão complexa entre nossas experiências e a biologia do nosso cérebro. As experiências vividas na infância, tanto as positivas quanto as nocivas, têm um impacto duradouro em nossa formação psicológica. Um aspecto crucial desse processo é a formação de esquemas, que são padrões de pensamentos e sentimentos profundamente enraizados que moldam nossa percepção do mundo e de nós mesmos gerando comportamentos disfuncionais.
Jeffrey Young, influenciado por pesquisas de Joseph LeDoux, explora a formação biológica dos esquemas desadaptativos remotos. Ele destaca que essa compreensão é uma hipótese sobre o desenvolvimento e manutenção dos esquemas, não uma certeza absoluta. Nossa busca por correlatos neurais para fenômenos subjetivos, como os esquemas, remonta à separação da psicologia da fisiologia e filosofia em 1879.
As pesquisas de LeDoux sugerem que nosso cérebro opera com sistemas emocionais e cognitivos paralelos. Em situações traumáticas, esses sistemas funcionam independentemente, mas podem estar associados. A amígdala, ativada por estresse e trauma, conecta-se ao córtex, desencadeando atenção, percepção e memória no momento do perigo. As experiências atuais podem ser influenciadas por memórias infantis traumáticas e, muitas vezes, funcionam como gatilhos emocionais que reativam o passado.
Os estilos de enfrentamento – hipercompensação, evitação e resignação – surgem como mecanismos que se formam na infância e, por algum tempo, funcionaram adaptativamente, como modos de encarar as dificuldades vividas no dia a dia da criança. No entanto, esses estilos podem persistir na vida adulta, causando estragos na saúde mental. Uma criança que sofre negligência pode responder com um estilo de evitação, afastando-se das emoções. Uma criança abusada pode recorrer à hipercompensação, lutando constantemente contra os esquemas. Quando adultos, essas pessoas cronificam estes modos de agir, trazendo problemas crônicos para a existência, o que, muitas vezes, originam os transtornos mentais e os transtornos de personalidade.
Esses estilos de enfrentamento moldam nossas respostas a situações adversas. A pessoa evitativa pode se afastar de relacionamentos profundos por medo de ser magoada, perpetuando o esquema de abandono. O hipercompensador pode lutar para ser sempre o melhor, buscando validação, mas nunca se sentindo suficientemente digno. Aqueles que adotam a resignação podem se submeter a situações tóxicas, repetindo o padrão de abuso emocional.
O impacto biológico desses esquemas é profundo. Memórias emocionais implícitas associadas a esquemas são armazenadas no sistema amigdaliano, rápido e inconsciente. Quando estímulos da infância são reencontrados, essas memórias são reativadas, levando a respostas emocionais automáticas e inconscientes. Essas reações podem alimentar comportamentos autodestrutivos, perpetuando os esquemas ao longo da vida.
A terapia do esquema oferece esperança. Seu objetivo é aumentar o controle consciente sobre os esquemas, enfraquecendo as memórias, sensações corporais e comportamentos associados. Ao nomear as emoções não nominadas e reconfigurar os circuitos cerebrais através do córtex pré-frontal, os indivíduos podem começar se tornar mais saudável. A terapia ajuda a desencadear a conscientização e a compreensão das origens dos esquemas, proporcionando uma oportunidade para a mudança.
Os esquemas são como um fio invisível que atravessa a tapeçaria de nossa vida, influenciando nossa visão de mundo, relacionamentos e bem-estar emocional. Compreender como esses esquemas se formam biologicamente e afetam nossa saúde mental é o primeiro passo para a cura. Ao reconhecer os padrões que nos aprisionam, podemos começar a desvendar esses fios e tecer uma nova tapeçaria de autodescoberta, crescimento e transformação.
Fonte: Livro – Neurociência e Terapia do Esquema – Adriana Santiago – Editoria Leader
27/09/2023